Nenhum país está pronto para abrir mão de petróleo, diz Lula à BBC News Brasil para defender exploração na Amazônia
18/09/2025
(Foto: Reprodução) Presidente Lula em entrevista à BBC
Paulo Koba/BBC
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou na quarta-feira (17/9) em entrevista à BBC News Brasil que o momento de abandonar projetos de exploração de combustíveis fósseis como o petróleo "ainda não chegou".
"Eu quero saber qual é o país do planeta que está preparado para ter uma transição energética capaz de abdicar do combustível fóssil", disse Lula ao ser questionado sobre o projeto do governo brasileiro e da Petrobras de prospectar petróleo na chamada Margem Equatorial, na foz do rio Amazonas, em águas profundas do Amapá.
O presidente diz ser "totalmente favorável" à transição energética que leve o mundo a não precisar mais de combustíveis fósseis, mas que "é preciso saber qual é a necessidade de cada país".
A Agência Internacional de Energia (AIE) afirma que, para alcançar a meta de neutralidade de carbono até 2050, é preciso uma renúncia imediata à aprovação de novos projetos de petróleo e gás. Essa meta global é apontada como essencial para limitar o aquecimento do planeta.
O projeto da Petrobras, cujo plano de prevenção já foi aprovado pelo Ibama, pretende perfurar um poço exploratório na região da Margem Equatorial, a 500 km da foz do rio Amazonas e a mais de 160 km da costa amapaense.
O processo de licenciamento, porém, ainda não foi concluído, no aguardo de conclusões e análises de testes que simulam, por exemplo, como a petrolífera responderia em caso de uma emergência.
A Petrobras defende que "a confirmação da existência de petróleo na Margem Equatorial poderá abrir uma importante fronteira energética para o país", contribuindo para que o" processo de transição energética ocorra de forma justa, segura e sustentável".
Lula disse à BBC News Brasil que o governo e a Petrobras estão "cumprindo todos os rigores da lei, para que a gente possa fazer a pesquisa e saber se lá tem petróleo".
"Se nós tivermos um problema, nós seremos responsáveis para cuidar desse problema", declarou o presidente, argumentando que a Petrobras tem a "melhor tecnologia de prospecção em águas profundas" e que "nunca teve um incidente".
A exploração de petróleo na foz do Amazonas, porém, tem colocado até membros do governo em discordância.
Ambientalistas se posicionam contra a iniciativa liderada pela Petrobras e pelo Ministério das Minas e Energia alegando que são altos os riscos ambientais para uma região tão ecologicamente sensível e próxima da Amazônia em caso de vazamento.
Eles argumentam, também, que em meio à emergência climática causada, em grande parte, pelas emissões geradas por combustíveis fósseis, abrir novas áreas de exploração de petróleo seria danoso ao clima global.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já se manifestou pessoalmente contra a exploração de petróleo na região, mas disse que a decisão sobre o assunto será técnica e não política.
COP: 'Quero que o mundo conheça a Amazônia'
Lula também foi questionado pela BBC News Brasil se seu empenho em liberar a prospecção de petróleo na Margem Equatorial não pode comprometer sua "liderança climática" diante da realização da COP30 em Belém (PA), em novembro.
Além de defender a importância do projeto, o presidente argumentou que Brasil já tem quase 90% da matriz elétrica limpa, com potencial de explorar mais ainda energia eólica, solar e com biomassa.
"Nós estamos fazendo a maior revolução na transição energética que algum país está fazendo."
Lula ainda defendeu a realização da COP em Belém, cidade que tem enfrentado uma crise relacionada aos preços elevados cobrados pelas hospedagens. Representantes de 25 países chegaram a pressionar governo Lula para tirar COP30 da capital paraense.
Na entrevista de quarta, o presidente prometeu realizar a melhor COP já feita.
"A COP foi escolhida para ser feita na Amazônia porque eu quero que o mundo, ao invés de falar sobre a Amazônia, conheça a Amazônia."
"Eu quero que as pessoas que estão preocupadas com as florestas venham conhecer a floresta. É muito fácil fazer uma COP em Paris, em Dubai", disse Lula.
g1 entrevista Marina Silva, ministra do Meio Ambiente